SEMPRE É PRECISO SABER. QUANDO UMA ETAPA CHEGA AO FINAL
Visitando o blog da minha amiga
Fátima , vi um texto do Caio
F que adorei:
“Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas
dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol
quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada ‘impulso vital’. Pois
esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por
muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova
estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te
surpreenderás pensando algo assim como ‘estou contente outra vez”.
Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É
horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que
parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper
nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom
lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido,
"hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu"). Dor é
assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois
passa. Que pena. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta: as dores da
vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair
do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa
inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez
segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas
linhas atrás. Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um
transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você
desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai
ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa
sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha
molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória,
um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá
tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver,
passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a
gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: "É
melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem
que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que
não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de
olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível,
mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de
alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A
vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai.
Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não,
você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando.
Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas
não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa
a diminuir e o unico jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai
ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha?
Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô
falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.
Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se
insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a
alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos,
fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos o que
importa é deixar no passado os momentos que já se acabaram. As coisas passam, e
o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora.
Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas,
portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Antes de começar um capítulo
novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais
voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem
aquilo - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Encerrando
ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque
simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o
disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
“NESSA VIDA TUDO PASSA. Essa não é somente uma forma de expressão,
é uma verdade absoluta”.
Comentários
Ótimo casamento de texto amiga!
Bjs.
Textos fabulosos que adorei ler...grande escolha de poetas.
Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora