PERFUME


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele.

E o corpo doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.
No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

.
e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.
Rosário Pedreira

Comentários

Li disse…
Que lindo!! Triste, porém a tristeza não consegue ofuscar a beleza. Sempre pensei que amar não doia, mas a saudade do amor que não está presente é uma dor latejante, que não tem remédio que faça parar... só a presença do sêr amado. Mas nem sempre é possível, então nos resta acostumar a viver.
Beijo grande amiga!

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